Projectistas e consultores angolanos defenderam num estudo a separação entre o abastecimento, roboteiros e zungueiras, no combate ao novo coronavírus, medidas “muito simples” que se não forem adoptadas pode levar à morte de “muita gente”. Ao Governo (veja-se o que tem feitos nas últimas décadas) só interessam medidas complicadas pois é-lhe mais fácil arranjar desculpas para não resolver ou… resolver mal.
O estudo foi elaborado pela Associação Angolana de Projectistas e Consultores (AAPC) e elenca um conjunto de cuidados e de regras para o combate ao novo coronavírus, Covid-19, em Angola, onde já provocou duas mortes de um total de 14 casos positivos, sendo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que Angola poderá ter cerca de 10 mil casos até Julho.
O presidente da AACP, Paulo Nóbrega, referiu que o estudo foi feito com base na realidade do país, que “obriga a que os mercados funcionem, porque as pessoas não têm capital para armazenar e precisam de com frequência irem às compras”.
“E entendemos, enquanto angolanos, que conhecemos a maneira de estar e de funcionar, fazer propostas, que podem ser de simples implementação, porque a maior parte das propostas que estão aí podem ser adaptadas a mercados existentes e apenas exige mudança de procedimentos”, afirmou.
Segundo Paulo Nóbrega, estes procedimentos propostos passam pelo distanciamento, com marcações no chão de locais onde as pessoas podem estar para garantir o afastamento e também nas condições da sua circulação, “bem como na separação muito clara daquilo que é quem abastece, quem vende, de quem é cliente”.
“É muito simples, o que temos que fazer de uma forma muito clara é separar o abastecimento, os roboteiros (transportadores de mercadorias), as vendedoras, daquilo que são os clientes para evitar aquilo que é a transmissão comunitária”, frisou.
Para o presidente da AAPC, as propostas apresentadas “vão ser adoptadas todas, algumas, a maior parte, mas se não forem vai morrer muita gente”. Fazendo fé no ADN do Governo, o melhor mesmo é esperar para ver se o Povo consegue viver sem comer. Se não conseguir, então o Governo criará uma comissão, liderada por um general, para apresentar – no prazo de seis meses – medidas para apoiar com comida os angolanos que já tenham morrido.
“Porque nós temos a noção que a nossa população não tem condições financeiras para armazenar comida, que tem que todos os dias ir ao mercado e que nós não conseguimos, sem resolver o problema dos mercados, que não haja transmissão comunitária”, sublinhou.
No estudo que já foi submetido às autoridades angolanas e chegou também a Cabo Verde e Moçambique, a AAPC estabelece circuitos de alimentação de abastecimento, independente dos clientes, com a demarcação de arruamentos ou de caminhos no meio dos mercados, para garantir a inexistência de contacto físico entre vendedor, abastecedor e cliente.
Da parte dos clientes, propõe a organização de circuitos das pessoas, de forma a que andem em fila e num número máximo de pessoas pelo mercado, em função da sua dimensão.
“E depois estudamos com muito cuidado a banca, ou seja, como é que as pessoas organizam a espera para serem atendidos, como é que as pessoas efectuam a compra sem estar a tocar no produto, indicando ao vendedor o que é que querem e depois, numa banca à parte, faz-se a transacção financeira e a entrega do produto e também ter uma banca para a desinfecção das mãos ali”, explicou Paulo Nóbrega.
De acordo com o presidente da AAPC, já foram contactados pelo governo da província de Luanda, para se implementar e se começar a analisar este problema. Tudo indica que, graças ao dinamismo do governador, esta metodologia possa estar a funcionar dentro dos tais seis meses…
“Manifestamos a nossa disponibilidade e penso que isso nos próximos dias será feito. Fomos contactados pelo governo da província de Luanda, pelo governo do Cuando Cubango, que sabemos que têm em construção um mercado e queria adaptar as nossas regras e do governo do Cuanza Sul, que também olhou para o caderno”, disse.
Depois de soluções para os mercados, a AAPC, que agrupa nesta altura as 16 maiores empresas de projectos de gestão e fiscalização no mercado, vai apresentar, brevemente, outros dois projectos similares, que se prendem com a questão da transmissão financeira (multicaixa/dinheiro) e com os transportes.
“São situações que nós abordamos na perspectiva do angolano para o angolano, do país Angola sem dinheiro e com o problema, e como resolver”, disse.
Ao que tudo indica, o ministro dos rebuçados e dos chocolates que assassinam, Eugénio Laborinho, tem uma outra estratégia que passa pela descoberta do Governo que indica que em Angola só tem fome quem não… come. Por regra, a equipa de João Lourenço faz estas descobertas depois de frugais e singelas refeições do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005…
A comprovar que este tipo de “dieta” é inspirador, recorde-se que João Lourenço reafirmou, através das suas contas no Facebook, Instagram e Twitter, que “a saúde constitui prioridade do Executivo” e “não descansará enquanto continuar a haver mortes por doenças evitáveis” no país.
A posição do Chefe de Estado surgiu há cerca de um ano na sequência das visitas realizadas ao Centro de Depósito de Medicamentos e aos hospitais Geral de Luanda e Josina Machel, onde se inteirou das dificuldades e dos projectos em curso.
Segundo o Presidente, recorde-se, o contacto com essas instituições permitiu reforçar a ideia de que a luta por um sistema de Saúde mais humanizado é um desafio de todos, ou seja, da família, escola, universidade, das igrejas e até do próprio hospital. Desafio desde 1975?
Por outro lado, o Titular do Poder Executivo (que acompanha sempre o Presidente da República…) manifestou-se animado depois de constatar que os profissionais desses locais de cura estão engajados em fazer dos hospitais um instrumento fundamental para o desenvolvimento do país.
Na altura, a Angop não registou as declarações do Presidente do MPLA, que nunca falta às deslocações onde está o Presidente da República, mas é fácil presumir que terá dito a mesma coisa…
Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Angola 23,9% da população passa fome, o que equivale 6,9 milhões de angolanos. Isso mesmo. Passa fome. Isso foi antes da Covid-19.
Só falta agora esperar que o ministro dos rebuçados e chocolates que matam, Eugénio Laborinho, venha dizer (como fez o ex-ministro Marcos Alexandre Nhunga) que os angolanos “não passa fome como tal”. Ou seja, que passam fome às segundas, quartas e sextas e comem qualquer coisa às terças, quintas e sábados? E que “como tal” aos domingos fazem jejum.
Folha 8 com Lusa